quarta-feira, 21 de novembro de 2007

À descoberta da Argentina

Hola!

Desculpem a ausência, mas a ultima semana foi agitada e esta não está a ser menos...alguns episódios menos bons, mas nada de grave. Na passada terça feira, fiz uma das minhas...deixei a bolsa (com carteira, telemóvel, chaves...) num “comedor” na Laferrere e só me apercebi já estava em BA. No dia a seguir, depois de uma tarde atribulada para lá chegar, a senhora responsável pelo comedor devolveu-me a carteira mas faltava o meu cartão do banco....surpresa para mim e aparentemente para ela também. Parecia estar tão chocada como eu e achei melhor não fazer acusações (nem havia condições para isso) e lá me vim embora relativamente (des)preocupada, porque quem quer que o tenha tirado não tem grandes hipóteses de fazer compras ou levantar dinheiro (até porque ali caixas Multibanco e lojas são coisas que não existem). Cartão cancelado, problema resolvido...um mistério por desvendar. À noite, eis senão que a Joana também perde o dela para animar o dia...resolvemos então ter umas aulas de tango na “La Viruta” e beber um copo para remediar a coisa. (o cartão da Joana apareceu, o meu continua por ai perdido nessa Buenos Aires).


O fim de semana foi óptimo como de costume, longos passeios por Palermo Viejo e descobrimos que não é necessário sair de BA para chegar ao Japão... e que afinal se pode fugir do barulho e encontrar um sitio tranquilo mesmo aqui ao lado: o Jardim Japonês.



Agora lembrei-me de algo que me tenho esquecido de falar: aqui há arvores que pingam agua. Um fenómeno estranhíssimo que encontrámos logo nos primeiros dias. Ao inicio pensávamos que eram os passaritos a largar prendinhas, mas não, eram mesmo as arvores. Mais um mistério... Para os interessados a arvore chama-se Tipuana Tipu
Neste jardim japonês eram mais que muitas as árvores assim, que tornavam o sitio ainda mais magnífico.



Festa em casa de uns Erasmus. A noite acabou com uma enorme de reuniao de tugas (estamos mesmo em todo lado...)


Como sempre animaçao aos domingos... Talvez umas das melhores coisas que a cidade tem para oferecer: música e festa em cada canto


A estadia em Buenos Aires está a chegar ao fim e na próxima quinta feira começo a viajar. Primeiro vou ao norte do País – à Província de Missiones – com a LIFE. Tal como eles fazem todos os meses eles, vamos ajudar uma povoação local: levamos comida, produtos de higiene, roupa (e tudo o mais que se lembrarem e que normalmente não damos muita importância). Acho que vou fazer de tudo um pouco, carregar caixas, separar roupa, fazer comida, tirar piolhos aos chicos... Depois de 4 dias no meio da selva, temos um merecido passeio as Cataratas do Iguazu no Brasil, e um saltinho ao Paraguai. Na semana seguinte o pessoal da ONG volta para Buenos Aires, mas eu fico pelo Norte da argentina (já perto da fronteira com a Bolívia) a viajar com uma rapariga Canadiana. Não tenho planos, nem sei bem quando volto a Buenos Aires mas vou tentar ir dando noticias.


Suerte a todos!
(Mais uma curiosidade... aqui muitas pessoas quando se despedem em vez de dizerem tchau ou até a próxima dizem "suerte"...mais um detalhe que exemplifica bem a simpatia dos porteños)!

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Um dia nas pampas com os Gaúchos

Mais um passeio pelos arredores de Buenos Aires desta feita a San António de Areco, uma terreola que parece estar a um mundo de distância de Buenos Aires (na verdade é só a 2 horas de caminho). Areco é uma vila tranquila, verde por todo lado, óptima para um descanso da enorme confusão da capital. Soubemos por umas colegas da LIFE que o domingo passado era o Dia da Tradição, algo que só se passava uma vez por ano e pensámos: porque não?

O dia começou logo bem, porque como verdadeiras portuguesas que somos achámos (ao contrario da francesa e das canadianas que também iam) que não era preciso comprar o bilhete antes, que comprávamos domingo de manhã...Claro que não foi bem assim, estava esgotado (mas não abortámos), lá conseguimos para duas horas depois, mas perdemo-nos das outras jovens. Aproveitamos o tempo morto para ir a San Telmo que vocês já conhecem, certo? Certo. Todos os domingos há uma feira e neste havia uma diferente, com barracas do mais estranho possível, tipo museu vivo, um concurso qualquer de originalidade...na verdade um verdadeiro freak show.


Depois de mais uma odisseia para arranjar moedas para o “colectivo” (esqueci-me de contar esta particularidade, os autocarros funcionam lindamente, organizados, chegam a todo o lado... mas só se pode comprar um bilhete de cada vez, $0.80, só em moedas, só no autocarro. Ora ninguém tem moedas, ninguém troca em lado nenhum, temos que andar a comprar parvoíces para arranjar trocos) e lá fomos para o terminal e daí para Areco.

Depois de muito caminharmos lá encontrámos a fiesta, os gaúchos (os cowboys cá do sitio) vestidos a rigor, verde a perder de vista cavalos e mais cavalos e claro, consequentemente muita bosta de cavalo (um cheiro que nos acompanhou todo o dia). Chegámos com fome e estávamos convencidíssimas que ali se comeria bem. Procurámos um sitio para sentar, com um banquete, mas só encontrámos umas bancas do género bifanas e cerveja e também não nos pareceu mal até nos darem um pedaço de carne enorme inteiro e muito pão. Ninguém parecia atrapalhado, todos tinham a faquinha presa no cinto e pareciam fazer aquilo todos os dias. Estas duas jovens, pouco habituadas e sem faquinha, resolveram pedir ajuda ao jovem da banca...este deu-nos um facalhão enorme e virou costas. A carne era tão rija, que nem à faca, nem ao dente...rimo-nos do ridículo (e os locais que lá estavam também) e desistimos, até porque a fome entretanto passou.

Aqui está uma frase que me disseram ontem que acho que até vem a a calhar...“A sabedoria dos homens é proporcional não à sua experiência mas à sua capacidade para adquirir experiência” George Bernard Shaw

Bom...neste caso aprendemos como vivem os locais e aprendemos também que para a próxima ou levamos uma faca ou ficamo-nos pelas empanadas :p



Mais fotos....

Jantar de tugas lá em casa

Av de Mayo

Esmeralda Otero

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Como vos disse a coisa continua a não estar fácil por cá na terra das pampas (para os argentinos, digo), o preço da comida aumenta diariamente e as manifestações sucedem-se. Agora mesmo quando regressava a casa estava uma a acontecer mesmo em frente a um dos melhores shoppings desta zona – Alto Palermo. Pelo que percebi do que falei com as pessoas, o protesto, liderado pelo Movimento de Contestação Popular de um tal de Raul Castelar (que aparentemente eu deveria conhecer, já que a senhora ficou com um ar aparvalhado quando perguntei quem era), tinha uma razão bem simples: comida.

Ora bem, os manifestantes, todos da mesma cor (“os bolitas” – como os argentinos chamam aos peruanos, bolivianos...), cortaram a avenida, montaram o estaminé (tambores, bandeiras com a figura do Ché, pois claro), a policia alinhou-se em frente ao shopping e pronto... parou tudo. Entretanto, pelo que me disse aquela senhora isto é normal e geralmente não acontece nada de especial, se bem que os jovens de bastão e cara tapada deixaram-me algumas dúvidas. As outras pessoas que passavam pareciam não se importar muito, a não ser algumas senhoras que estavam bastante incomodadas por não poderem entrar no shopping (realmente não há direito...).

Só para se perceber como a minha descrição dos argentinos como sendo algo racistas não está longe da verdade, notem uma afirmação da senhora com quem falei (argentina, aparentemente classe média): “os argentinos da classe média argentina são uns nazis!”.

Bem, mas não quero passar uma ideia errada e provavelmente a sociedade argentina não é mais discriminatória que muitas outras, só que aqui parece que o tema está mais em aberto e as pessoas não têm grandes problemas em falar no assunto. Admitem que existe, mas falam como se fosse algo inevitável...

Parece também que as pessoas não têm grandes problemas em falar com estranhos sobre qualquer assunto. Como não é normal, não deixo de ficar surpreendida, mas acho óptimo o à-vontade com que o fazem e é muito bom para perceber como as coisas funcionam. Em 10 minutos de conversa esta senhora ainda me falou do marido que desapareceu no final dos anos 70...ela nunca mais o viu.
Para quem não sabe, entre 1976 e 1983, no período a que chamam “Guerra Suja”, desapareceram mais de 30 mil argentinos que os militares do General Videla suponham ser comunistas (aqui desaparecer inclui tudo...raptado, morto, torturado).
O filme “Imagining Argentina” com o António Banderas (não se preocupem que aqui o jovem não canta...) retracta isto mesmo. Não que seja um grande filme, mas dá para ter uma ideia.

Bem este post não estava nos planos hoje, mas quis partilhar. Aqui ficam mais algumas fotos.


Bairro: Ciudad Oculta (fotografia tirada pela Joana, do género câmara oculta)



Comida para todos. O "comedor" é um género de um centro comunitário onde as criancas podem comer, levar leite e afins. É também onde trabalhamos com os "chicos"


Os Voluntários


Mas nao é so trabalho... As segundas feiras no Konex há concertos ao vivo, do género zambujeira, mas no meio da cidade. Alguns voluntários e outros que se vao juntando...Argentinos, holandeses, belgas, canadianos de tudo um pouco.



O Jardim da Recoleta, perto de casa
Os parques e jardins ficam apinhados aos domingos. E há falta de melhor há quem faça deles praia (nao falta pessoal de biquini, cadeirinha, música, uma animaçao :)




domingo, 4 de novembro de 2007

Olá boa gente

Hoje vou falar-vos um pouco dos Argentinos. É sempre presunçoso tentar descrever um povo inteiro em poucas palavras e ao fim de tão pouco tempo...bom mas pior é não vos contar nada. Os argentinos são de uma amabilidade rara (tão rara que chega a ser demais). Já aconteceu de tudo, desde de duas pessoas que quase discutiam para serem elas a ajudarem-nos, a um casal a quem pedimos indicações que nos deu o nº telefone para o caso de termos algum problema. Ficam aparentemente muito contentes (e surpresos) por sermos Portuguesas. Acho mesmo que é daí que vem parte dessa simpatia (não por sermos portuguesas, mas europeias). Adoram...de repente no meio da conversa tornamo-nos “the special ones”.

Mas também é importante que se diga que esta gentilieza não vale para todos. É uma sociedade bastante discriminatória, por exemplo os indígenas, peruanos, bolivianos, vivem TODOS (não sei se será exagerado) naqueles bairros degradados onde trabalhamos e praticamente não se vêm nas melhores zonas da cidade, isto se não contarmos com aqueles todos sujos que vasculham à noite no lixo dos prédios e empresas – “Os cartoneros” (outra profissão curiosa) – que procuram cartão para vender.

Aliás o pais está à tanto tempo em crise (só varia a profundidade da crise) que as pessoas inventam toda e qualquer forma para fazer dinheiro (tudo se vende, tudo de aluga) e vê-se que até as que vivem nas melhores zonas têm muitas dificuldades (é ver aquelas senhoras do género Av. Roma a fazerem contas aos pesos no supermercado e às voltas com os talões de desconto para o detergente). Para terem uma ideia, os salários de algumas pessoas são pagos pelas empresas ou pelo governo em vales de compras que estas depois descontam no supermercado.

E as pessoas parece que se resignaram, há um pessimismo geral e já ninguém acredita que a situação vá melhorar. Acontece que esta atitude faz com que exista alguma inércia e serve, de certa forma, de desculpa para não se (tentar) mudar nada. Nalguns daqueles bairros a lógica é: “isto está tão mau, nem vale a pena procurar um emprego, vou mas é ficar aqui encostado à soleira desta porta a viver do subsidio do estado”. (óptimo exemplo para alguns miúdos que acham que não vale a pena ir à escola).

Parece então uma sociedade meio adormecida em que muitas coisas não funcionam e paciência é uma palavra-chave. O aviso nesta porta de autocarro é um bom exemplo, heh.



Bem, isto vai longo hoje. Mas ainda ficam algumas novidades para quem não acompanha: a semana passada foram as eleições, como vos disse, foi eleita a primeira mulher presidente na Argentina (o segundo lugar foi também para uma mulher), o que não significa necessariamente que esta seja uma opção para o país, mas enfim... De resto o tempo está óptimo, há sempre muito para se fazer e os bifes continuam baratos :)

Aqui ficam algumas fotos.

Grande concerto: Tangoloco (misturam tudo e mais alguma coisa com tango...muito bom)


O Obelisco esse grande monumento...



La Boca: El caminito (o lugar tipicamente turistico, mas vale a pena)




El Tigre: passeio no delta de um rio nos arredores de Buenos Aires